Uma sociedade em crise
II
A sociedade contemporânea está a ser marcada por mudanças significativas na história da humanidade e um certo estado de crise, que tem afetado substancialmente a forma de viver e pensar da sociedade atual.
Sendo a primeira parte um alerta para a sustentabilidade e ecologia do planeta, esta segunda parte foca-se no despertar para a forma como vivemos atualmente em comunidade, refletindo sobre alguns temas e desafios que são enfrentados diariamente.
Podemos observar que todos os séculos passam por desafios e transformações significativas que moldam o mundo e a sociedade em que vivemos hoje.
Apesar de só ter passado pouco mais de duas décadas do século XXI, já aconteceram rápidas mudanças como o desenvolvimento da urbanização e consequentemente a migração do campo para as cidades, a globalização das culturas e interconexão global, e os rápidos avanços tecnológicos. Nestes poucos anos também surgiram algumas crises como a pandemia Covid-19, conflitos armados, terrorismo e instabilidade na segurança, a desigualdade social e as crises climáticas e
económico-sociais.
A sensação é de que a vida se tem tornado cada vez mais acelerada e com o surgimento da inteligência artificial, é importante refletir o futuro da sociedade atual para construir uma sociedade mais justa e inclusiva e menos desigual e individualista.
Capitalismo
O capitalismo permite uma diversidade muito grande de opções aos consumidores e incentiva a inovação criando também empresas mais
eficientes. Por outro lado, intensifica a desigualdade social, o surgimento de crises económicas, um monopólio de poder e, como abordado anteriormente, a poluição e degradação do planeta.
Atualmente vivemos num mundo maioritariamente capitalista. Enfrentamos globalmente o início de uma crise económica e política, onde se observa uma sociedade que se divide, cada vez mais, em extremos opostos, devido aos desafios enfrentados como a desigualdade, corrupção, instabilidade política- económica, pressões geopolíticas, conflitos e ameaça à segurança e privacidade.
Segundo o Relatório da ONU (WESP 2022), devido aos desafios enfrentados atualmente desencadeados pela pandemia do Covid-19, como a inflação persistente, o aumento das taxas de juros e as incertezas, deixam sombrias as perspectivas de uma recuperação económica robusta, gerando o risco de um longo período de baixo crescimento global.
Desigualdade Social
Vivemos num mundo desproporcional, onde os 10% mais ricos controlam 76% da riqueza mundial, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 2% dessa riqueza.
Este contraste acaba por ser mais visível em certas cidades onde podemos encontrar “bairros de lata” mesmo ao lado de prédios e moradias extremamente luxuosas, como no Rio de Janeiro ou África do Sul.
Esta disparidade gera tensões sociais e políticas, e a falta de acesso a oportunidades económicas e serviços básicos pode levar a protestos, instabilidade na segurança e até racismo e xenofobia.
Segundo a ONU, os desastres naturais levam 24 milhões de pessoas por ano a situações de pobreza, e as pessoas com deficiência (16% da população mundial) têm 2 a 4 vezes mais risco de morte do que a população em geral nestas situações.
Também a desigualdade de género continua a persistir fortemente em todo o mundo. Segundo um relatório elaborado pela ONU Mulheres e o DESA em 2022, no ritmo atual de progresso, o objetivo de alcançar a igualdade de género pode levar até 286 anos para ser alcançado.
A ONU alerta que é necessário uma ação rápida, para que a falta de proteção jurídica para mulheres vítimas de violência, desigualdade salarial e a impossibilidade de controlar os seus bens não sejam uma realidade para as próximas gerações.
Conexão (Desconectada)
Será que já percebemos que apesar de estarmos constantemente conectados à tecnologia, às pessoas que conhecemos e ao mundo através das redes sociais e da internet, acabamos por nos encontrar facilmente desconectados do mundo real, dos amigos e família e até de nós próprios?
A tecnologia e a internet são sem dúvida um dos maiores e melhores avanços das últimas décadas, conseguimos comunicar com quem esteja a milhares de km de nós (até na lua) e com a inteligência artificial tornamo-nos mais eficientes e produtivos, onde facilmente conseguimos solucionar problemas complexos, que antes poderiam ser exaustivos ou até mesmo impossíveis.
Por outro lado, estas mudanças, que acabam por gerar fake news, pressão por uma rotina hiper-produtiva, a ilusão de uma vida e corpo perfeitos, risco na segurança, a sensação de FOMO, os estímulos constantes que nos provocam pequenos picos de dopamina, têm um impacto significativo na saúde mental, nas relações sociais e na estrutura de trabalho, devendo ser refletidas e desenvolvida uma educação digital, melhor regulamentação e políticas no ambiente de trabalho, e motivar a sociedade para uma cultura de conexão real.